16 de novembro de 2014

O buraco (em prosa e verso)

PROSA
Às vezes tenho a sensação de que uma parte de mim foi brutalmente retirada. Meu estômago se contrai, um nó se forma em minha garganta e a única ação que eu penso em realizar é prender esse choro, por não ter como explicá-lo. As lágrimas parecem ser pouco; quando, raras vezes, as libero, o alívio é imediato, porém efêmero. Ao chorar, crio duas dores. Doem os pulmões, dói a cabeça. E meu pedaço não é restituído. Talvez dias depois, ou mesmo amanhã, não sinta mais o buraco. Mas sei que ele estará lá, até que eu o note novamente e esse ciclo se repita.

VERSO
Tenho, às vezes, a sensação
de que de mim uma parte
foi brutalmente retirada.
Contrai-se meu estômago
em minha garganta forma-se um nó
e a única ação que penso realizar
é esse choro prender
por não ter como explicá-lo.
As lágrimas parecem ser pouco.
Quando, raras vezes, as libero
o alívio é imediato, porém efêmero.
Ao chorar, duas dores crio:
doem os pulmões, a cabeça dói.
E aquele pedaço não me é restituído.
Dias depois, talvez, ou mesmo amanhã
não sinta mais o buraco.
Mas sei que lá estará
até que novamente eu o note
e esse ciclo se repita.

Poema 123, disponível na antologia "Somos Todos Poetas" através de concurso realizado pela página Lápis e Papel.
Adquira o seu aqui.

9 de novembro de 2014

Entenda, não é frieza

Entenda, não é frieza
apenas não sei sentir
não sinto como os outros
do mesmo jeito
com a mesma intensidade
e intenção

Entenda, não é frieza
meu carinho é genuíno
meu querer não é fingimento
quero bem, mas tão bem
que até prefiro o afastamento

Entenda, não é frieza
nunca foi frieza
nunca será frieza
sou somente um ser humano diferente
a quem qualquer contato assusta:
um simples enlaçar de mãos
um terno abraço
ou um toque na nuca

Beijos apaixonados
ou mesmo sem paixão
não são para mim
nunca serão

Entenda, não é frieza
apenas, talvez
minha maior fraqueza
e não há, por aí,
outros fracos como eu

Se há, desconheço
ainda não é o momento de encontrá-los,
se é que há; se é que eu mereço

4 de novembro de 2014

Vozes

De repente não aguento mais ouvir vozes. Vozes que penetram na mente sem intenção, que permeiam pensamentos sem querer me afetar. Mas me afetam. Vozes que dizem as mesmas coisas, ou coisas novas, que perderam o sentido devido a minha falta de interesse em sabê-las. Os timbres de sempre. Os tons de todos os dias. Um simples falar que tem o dom de tornar qualquer possibilidade de paz uma confusão explosiva dentro de mim. Que me faz querer gritar e espalhar a minha voz, só a minha voz. Só. 


(Fonte da imagem: http://rafadivino.wordpress.com/2010/08/16/blablabla/)